13/11/2010

Disseram-me no outro dia que as relações vivem-se, maioritariamente, na cabeça de cada um. Achamos que somos tão especiais, cheios de certezas da nossa unicidade, cheios de convicção de que os momentos passados a dois nunca vão ser superados por mais ninguém. Mas está tudo na nossa cabeça. Achamos que vivemos uma relação a dois, mas na verdade vivemos uma relação com o nosso ideal de relação.

Por mais que me tenha identificado com esse pensamento, hoje pensei que comigo é diferente. Eu vivo uma relação com a relação que não quero ter.

Possessividade foi uma palavra que nunca encaixou bem no meu vocabulário. Ciúme sim.
Vivo os ciúmes desde sempre. Vivo com esse sentimento e sempre tentei ultrapassa-lo. Fingir que não estava ali, ignorar o que sentia.
Até que chegou alguém que me mostrou que fazia sentido partilhar os defeitos. Mas se calhar havia uma razão para ter deixado esta caixa fechada a sete chaves. Se calhar havia uma razão para não a mostrar, para não dar razão de sua existência.

A verdade. A verdade é que nos escondemos sempre atrás de algo. Somos fantasmas de nós próprios. Da nossa própria rotina, dos nossos passos, das nossas decisões. Tiramos partido do exterior para nos desculparmos dos actos que sabemos que são errados. Incorrectos.
De outras pessoas, de outros sentimentos que habitam em outros corpos.

A mim parece-me que hoje em dia as pessoas dizem frases só por dizer. Porque soa bem. Rima com o verso anterior apesar de, se pensarmos um pouco sobre isso, não faz sentido nenhum.

Tenho saudades do Natal. E o natal aqui não chega. Chega a neve, o chocolate quente, a lareira, os enfeitos, as luzes, a árvore, os chapéus à rena e fatiotas à pai natal. Mas não chega o natal lisboeta. O ficar parado no trânsico do Marquês de Pombal e contemplar a árvore de natal gigante do parque Eduardo VII enquanto se come as castanhas compradas na esquina do Tivoli. Não, esse natal não existe.

Percebi que já mudei tanto. Tantas pessoas passaram dentro de mim. Pessoas de que me orgulho, e pessoas que não reconheço.
Mas hoje não reconheço principalmente a pessoa que habita em mim no presente.
E o que mais me assusta é que, todas as vezes que mudei, que saltitei de personalidade em personalidade foi sem querer...foi por conhecer pessoas assim ou assado, por me ter acontecido isto ou aquilo. Não foi porque quis. Não foi por nenhuma etapa traçada.

Parece que cheguei a um limite. Ao limite do quarto de personalidades que existe na minha alma gigantemente pequena.
E não me apetece pensar mais sobre isto.
Custa-me olhar para trás e ver que as decisões mais difíceis que tive de tomar na vida, resolvias virando as costas ao problema.
Toda a gente diz que é mais fácil. Não é mais fácil. Mas também não é mais difícil. Simplesmente poupa tempo. Um tempo de se's, de indecisões, de ponderações, de balanceamento...um tempo sujeito a romper-se noutra oportunidade mal dada. Odeio esses tempos. Esses tempos perdidos que nos fazem gastar meses de outras hipóteses só porque não queremos aceitar a hipótese mais viável. Porque estamos de perto, e de perto vê-se mal.

E tento não cair na tentação de virar as costas a este problema. Não seria mais fácil. Mas pouparia este tempo de tentativas falhadas.

1 comentário:

zarinha disse...

tem la salma contigo...isso é uma questão de pulmão...sossega a passara nher