20/02/2012

Heart ultrasound

Depois da tempestade passar espero sempre até ter certeza que não existem chuviscos que ficaram por cair. Porque depois o que é da gente? Pensarmos que já podemos estender a roupa sem perigo e de repente uma chuvada nos assustar? Mais vale esperar um certo número de dias de sol, estatisticamente relevante, para que possamos dizer "sim, é verdade, já passou".

Talvez ainda ache que houve muita coisa que não valeu a pena. E esforço-me para concluir que isso significa que ainda existem pequenas nuvens cinzentas a pairar. Porque...não sei, diz-se por aí que quando a tempestade passa de ver pensamos sempre "ainda bem que alguma vez veio", como se víssemos o ponto positivo no meio de todo o furacão de emoções. Diz-se que, enquanto não se sentir dessa forma, é porque a tempestade ainda não passou totalmente.

Talvez nessa teoria maluca, a tempestade ainda não tenha passado. Talvez.

Ou talvez tenha, porque escrever sobre ela já me cansa o juízo. Já não me apetece, já perdeu todo o sentido e importância.

Mas há realmente coisas que, se voltasse atrás, não teria feito. Não teria tentado, esforçado. Era tão pequena e hoje sou tão grande, tão dona de mim.

Chama-se crescer. Esses espinhos que nos cravam no coração sem pedirmos são balas de chumbo que nos alimenta a alma, eventualmente. Crescemos. E, um dia, velhos e cansados, na ecografia do nosso coração irão estar pequenos segmentos de histórias traçadas e vividas...e a maior parte acabadas ou inacabadas, mas não presentes.

Porque as histórias são assim mesmo. São para começar e acabar. Se não fossem histórias eram apenas pedaços de vida perdidos e incertos no tempo.

Por isso acho que cresci.




E no último dia da minha ecografia vou enviar um postal a todos os que puseram balas do meu coração. Agradeço e mando um beijinho.

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