Há um preço que se paga quando
escolhemos ver o mundo com os nossos próprios olhos, quando largamos as
revistas, os vídeos do youtube, os documentários de publicidade turística,
quando paramos de observar a montra das viagens baratas com 5 dias de estadia e
escolhemos simplesmente ir.
Há um preço que se paga por querermos
ser geograficamente livres, desassossegados, curiosos. Há um preço alto que
pagamos diariamente por escolhermos a instabilidade. Assinamos imediatamente um
acordo com a mais pura e dolorosa nostalgia, com a certeza de que o que foi não
voltará a ser nunca da mesma forma. Talvez em re-encontros fugazes se
tentaremos reconstruir certos momentos e carinhos, enquanto a convivência se
vai perdendo aos poucos. Mas o amor permanece sempre, intemporal.
Há um preço que pagamos pela
forma como escolhemos viver. Temos de aceitar todos os momento de despedida,
que é o que mais nos tritura o coração...sem dó, trazendo apenas a dúvida de
uma decisão louca. E, quando a saudade bate e arromba a porta decidida a
destruir tudo o que restou, temos de renascer a vontade pela aventura,
lembrarmo-nos do que somos no meio do mundo, do que queremos ser.
Mas há um preço que pagamos por
cada adeus eterno, por cada lágrima derramada na descolagem do avião, por cada
beijo na avó velhinha. O preço da saudade, do amor que ficará por entregar em
mãos...para sempre.
E há ainda o preço do que
trazemos sempre na bagagem. O preço da vontade de saltitar e balançar no girar
do planeta. Há quem nunca vá confiar em nós, talvez nunca entreguem o seu
coração para os doidos que quando se chateiam, em vez de se fechar no quarto,
compram uma viagem para o lado de lá do Oceano. Há quem nunca quererá se
entregar a esses doidos, a esses corações que pertencem a toda a gente e a
ninguém.
Em tudo o que fazemos deixamos um
pouco de nós. De cada pessoa que conhecemos, nos relacionamos, amamos, deixamos
um pouco da nossa essência, da nossa alma. O coração dos viajantes do mundo é
divido em mais pedaços do que a última fatia do bolo de aniversário de uma
criança. Cada pedaço entregue nas mãos de pessoas que voarão para longe
levando-o consigo, e nós com um pedaço deles.
O preço do amor dividido em mil
pedaços, despedaça-nos. Faz-nos ter saudades 25 horas por dia. Faz-nos nunca
encontrar tudo o que queremos no mesmo lugar e sentirmos, constantemente, a
necessidade de “omnipotentializarmo-nos” para atingir a plena felicidade.
Mas a vantagem é que o que os
nossos olhos viram e o que o nosso coração sentiu, nunca ninguém nos irá roubar
ou apagar. É que nunca iremos duvidar do tamanho do nosso coração, do tamanho
do Mundo, do tamanho da Humanidade. Nunca mais duvidaremos do amor sem
fronteiras, da amizade pura, da intimidade instantânea e, ainda assim, bela.
Nunca mais duvidaremos que existe sim esperança, felicidade, amor em todos os
corações, em todas as vidas, em todos os cantos desse Mundo.
Aprenderemos para sempre o que é
realmente um abraço. O que é realmente um beijo. O que é realmente a eternidade
do momento.
Mas seremos para sempre seres
incompletos.
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