05/02/2014

Lei do Desapego.

Há um preço que se paga quando escolhemos ver o mundo com os nossos próprios olhos, quando largamos as revistas, os vídeos do youtube, os documentários de publicidade turística, quando paramos de observar a montra das viagens baratas com 5 dias de estadia e escolhemos simplesmente ir.

Há um preço que se paga por querermos ser geograficamente livres, desassossegados, curiosos. Há um preço alto que pagamos diariamente por escolhermos a instabilidade. Assinamos imediatamente um acordo com a mais pura e dolorosa nostalgia, com a certeza de que o que foi não voltará a ser nunca da mesma forma. Talvez em re-encontros fugazes se tentaremos reconstruir certos momentos e carinhos, enquanto a convivência se vai perdendo aos poucos. Mas o amor permanece sempre, intemporal.

Há um preço que pagamos pela forma como escolhemos viver. Temos de aceitar todos os momento de despedida, que é o que mais nos tritura o coração...sem dó, trazendo apenas a dúvida de uma decisão louca. E, quando a saudade bate e arromba a porta decidida a destruir tudo o que restou, temos de renascer a vontade pela aventura, lembrarmo-nos do que somos no meio do mundo, do que queremos ser.

Mas há um preço que pagamos por cada adeus eterno, por cada lágrima derramada na descolagem do avião, por cada beijo na avó velhinha. O preço da saudade, do amor que ficará por entregar em mãos...para sempre.

E há ainda o preço do que trazemos sempre na bagagem. O preço da vontade de saltitar e balançar no girar do planeta. Há quem nunca vá confiar em nós, talvez nunca entreguem o seu coração para os doidos que quando se chateiam, em vez de se fechar no quarto, compram uma viagem para o lado de lá do Oceano. Há quem nunca quererá se entregar a esses doidos, a esses corações que pertencem a toda a gente e a ninguém.

Em tudo o que fazemos deixamos um pouco de nós. De cada pessoa que conhecemos, nos relacionamos, amamos, deixamos um pouco da nossa essência, da nossa alma. O coração dos viajantes do mundo é divido em mais pedaços do que a última fatia do bolo de aniversário de uma criança. Cada pedaço entregue nas mãos de pessoas que voarão para longe levando-o consigo, e nós com um pedaço deles.

O preço do amor dividido em mil pedaços, despedaça-nos. Faz-nos ter saudades 25 horas por dia. Faz-nos nunca encontrar tudo o que queremos no mesmo lugar e sentirmos, constantemente, a necessidade de “omnipotentializarmo-nos” para atingir a plena felicidade.

Mas a vantagem é que o que os nossos olhos viram e o que o nosso coração sentiu, nunca ninguém nos irá roubar ou apagar. É que nunca iremos duvidar do tamanho do nosso coração, do tamanho do Mundo, do tamanho da Humanidade. Nunca mais duvidaremos do amor sem fronteiras, da amizade pura, da intimidade instantânea e, ainda assim, bela. Nunca mais duvidaremos que existe sim esperança, felicidade, amor em todos os corações, em todas as vidas, em todos os cantos desse Mundo.

Aprenderemos para sempre o que é realmente um abraço. O que é realmente um beijo. O que é realmente a eternidade do momento.


Mas seremos para sempre seres incompletos.


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