17/10/2011

As duas faces da moeda

Os meus sonhos transportam-me para uma realidade diferente. Sempre assim foi. Transportam-me pelas memórias do passado, de pessoas antigas, às vezes que já esqueci que fizeram parte da minha vida. E não sei porque esses sonhos existem. Porque são sonhos que tornam o dia seguinte confuso, fora de si. Que magoam até, por vezes. E que se eu seguir os impulsos que esse sonho coloca em mim é como transportar uma ilusão para a realidade. As pessoas acham que estou louca. "Mas porque está ela a falar disto agora?" Acham as pessoas, com certeza. E porque estou eu? Porque sou eu tão vulnerável ao que a minha subconsciência me diz? Porque não consigo eu aceitá-la e seguir em frente e esquecer o incrédulo sonho?

Mas sempre fui assim. Sempre pintei mais do que devia. Quando já não há mais espaço para pintar, quando já não há branco no branco da folha, eu pinto o amarelo em cima do verde, o verde em cima do laranja. Mudo de opinião, ou simplesmente não consigo parar. Acho que não faz mal.

E se calhar é essa a lição que tenho de tirar. Que às vezes faz mal. Que às vezes há coisas que fazem mal. Sempre fui fã de fazer o que pensava. Se queria fazer fazia e "depois logo se vê". Sempre fui contra as regras do senso comum. Quando tinha 10 anos atravessei a IC19 a pé.

Mas depois chega-se a um sítio interior, um caminho estreito e meio que esquisito e não se sabe bem. Não me arrependo de nada do que tenha feito por instinto, intuitivamente. Mas talvez um dia me arrependa, e quero ter a sorte de parar a tempo, mesmo no ponto, mesmo no momento. Estou chateada comigo mesma. Não me obedeço. Sou Gémeos, tenho sempre duas Anas dentro de mim a lutar por cada coisa que cada uma acredita. Mas eu sou mais sonhadora que realista, sou mais arrumada que desarrumada, mais organizada que desorganizada, mais extrovertida que consciente, mais impulsiva que racionalista. Então essa minha Ana ganha quase sempre. E a outra acaba por lhe dar razão porque, geralmente, acaba sempre bem.

Mas hoje há um ambiente esquisito entre elas. Como que uma guerra silenciosa, de olhares insultuosos mas tristes. E se desta vez a outra tiver razão? Se desta vez tiver de dar a vez à consciência, deverei mesmo tentar queimar-me no fogo? Porque a Ana está-se a tornar egoísta de tanto ego. E eu caracterizo-me por essa pessoa amarela, de camisola com flores rosa, de cabelo vermelho e sempre sentada na relva a rir, de pernas abertas.

Por isso hoje foi complicado. E a guerra silenciosa prevê-se que continue. Pelo menos até uma delas dar o braço a torcer.

E eu, secretamente, espero que seja a outra.

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